O glaucoma, caracterizado pelo aumento da pressão intraocular (PIO), é uma neuropatia óptica que representa a principal causa de cegueira irreversível em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Embora a doença evolua de forma assintomática, quando percebida, já pode comprometer entre 40% e 50% do campo de visão. Para conscientizar a população sobre a importância da prevenção e do tratamento precoce, foi instituída a campanha “Maio Verde – Prevenção e Combate ao Glaucoma”, celebrada em 26 de maio desde 2002.
Dados da pesquisa “Um olhar para o Glaucoma no Brasil”, divulgada em 2020, estimam que mais de 2,5 milhões de brasileiros tenham a patologia, sendo que quase 70% desconhecem conviver com a enfermidade. Entre os jovens de 18 a 24 anos, 53% não sabem o que é glaucoma, e esse número aumenta para 71% entre os adultos com 55 anos ou mais. A falta de sintomas evidentes e o desconhecimento sobre o assunto dificultam a identificação precoce e o acesso ao tratamento, que poderia evitar a perda de visão.
De acordo com o oftalmologista Dr. Ricardo Yuji Abe, especialista em Glaucoma do Hospital Oftalmológico de Brasília, a doença pode afetar pessoas de todas as idades, inclusive crianças. No entanto, é mais comum em indivíduos acima de 40 anos e sua incidência cresce significativamente com o aumento da idade. A PIO é o principal fator de risco para o avanço da doença e, embora haja casos em que a PIO seja normal, controlá-la ainda é a única maneira de retardar o dano ao nervo óptico.
O glaucoma não tem cura e seu tratamento clínico visa prevenir a progressão e evitar a perda de qualidade de vida devido ao comprometimento visual. “Infelizmente, um dos grandes desafios enfrentados para o controle do glaucoma é a adesão do paciente ao tratamento medicamentoso. Embora o uso dos colírios seja fundamental nesse sentido, a maior parte dos portadores da doença não são capazes de utilizar o medicamento corretamente e, após um ano, boa parte deixa de administrá-lo”, explica o médico. O comportamento foi comprovado pelo estudo "Associação entre a adesão ao tratamento do glaucoma, progressão da doença e a perda de acompanhamento", conduzido pelo próprio Dr. Yuji. O trabalho foi publicado nas renomadas Scientific Reports – Nature e The Ophtalmologist.
Pela primeira vez na América Latina, uma pesquisa usou dispositivos eletrônicos de monitoramento de adesão ao medicamento (MEMS) confirmando que a falta de aderência ao tratamento está diretamente ligada à progressão do glaucoma. As piores taxas de adesão - basicamente o mal uso dos colírios - estão entre os pacientes mais jovens, com menores níveis de escolaridade, renda familiar baixa e sem convênio médico. O índice nesse estrato chegou a 28,18%. “Os achados do nosso estudo contribuíram para termos um panorama mais preciso sobre o comportamento dos pacientes com glaucoma e, a partir daí, pensar em estratégias para reverter esse quadro”, afirma o médico.
A falta de conscientização e acesso a serviços de saúde adequados pode dificultar o diagnóstico precoce e o tratamento eficaz, agravando o impacto do glaucoma na população brasileira. Uma vez que os colírios permanecem como a opção principal para o tratamento do glaucoma, especialmente em países com poucos recursos como o Brasil, onde o acesso aos lasers e cirurgias minimamente invasivas é difícil, se faz cada vez mais urgente a conscientização da necessidade de visitas constantes ao oftalmologista. “A detecção precoce do glaucoma é fundamental para conseguirmos garantir a saúde ocular dos nossos pacientes”, finaliza o Dr. Ricardo Yuji Abe.
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